Iniciado o desfile de egos e respetivos programas políticos alusivos às próximas eleições autárquicas, resta o restolho de vozes, qual bando de aves tentando que o seu trinado prevaleça sobre o do vizinho. Será um facto: novos protagonistas, apesar do corolário de confiança, deixam sabor de ausência em relação a um tipo de sociedade anterior; e voltando uma vez ainda a Sun Tzu, «aquele que se distingue a resolver as dificuldades, resolve-as antes que surjam…» Mas tal formulação levar-me-ia para onde não quero ir por ora, pois o objetivo deste texto são as próximas eleições autárquicas. No entanto, o princípio da precaução também se lhes aplica; e aqui estamos nós a estabelecer comparações, nexos, com outras vozes e outros discursos de há décadas: de duas, uma: ou éramos mais ingénuos ou elas, as tais vozes, eram bem mais eficazes.
…Todavia, por indubitavelmente diversos, escutaríamos de modo distinto. Atentemos: o trauma sucessivo, ou coletivo e monstruoso, qual destruição das «torres gémeas», transmitido em direto e a cores para todo o mundo, estabeleceria para sempre um termo de comparação, entre descalabros, desgraças; do mesmo modo o nosso relacionamento bem diferente na União Europeia nos permite certo estatuto de garantia: o que nos falta é saber se a experiência adquirida trouxe algum conhecimento novo. Às novas vozes (e regresso às autárquicas), falta-lhes carisma, embora ninguém escape a enganar-se, eu mais que ninguém.
Enquanto europeus temos acumulado erros: a inevitável diferença de poder entre os Estados pode mudar a ordem da hierarquia. As afinidades continuam, acredito, a ser um modo de afirmação dos que evidenciarem similaridade, potencialidades médias ou pequenas em face das grandes potências que sempre existirão, transfigurando-se no decorrer do tempo, dos acontecimentos. Há sempre novas sociedades internacionais a formar-se, ainda que não pressentidas, pelo que andaremos continuamente iludidos lá fora ou cá dentro. Ameaças graves à situação mundial, armas de destruição maciça e a miséria são visíveis e, aparentemente, contínuas.
O «despotismo iluminado» que, pelo século XVII, irradiava da Europa, Paris, atingindo a América (colónias francesas, com Jefferson), está sempre em mutação e exercendo atrativo particular. Não por acaso, o Presidente francês, Macron, sem perder tempo, chegou há dias ao Iraque. Ali será reelaborado um novo mundo para a cultura francesa, os franceses: a América deu o que tinha a dar, há séculos; não o que ela deixa, restos apetecíveis, no antigo reino de Hussein…
E regressando às vozes cá dentro, tantas delas «anoitecidas» num país quase milenário e orgulhoso, estruturado, atento às necessidades e objetivos fundamentais do Estado, observando a relação de facto entre o governo e a maioria de apoio, a circulação pela via empresarial, dêmos credibilidade a novas vozes, aos seus ideais, o contrário seria insensato. A relação com o tempo nunca é a mesma, nada permanece imutável.
Viva Portugal intrépido que somos, fomos e seremos.
05.09.2021