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Índice:

193 -ÁFRICA DO SUL – AGITAÇÃO

192 - MEMÓRIA E CONVÉNIO

191 - DO DILACERANTE DESESPERO

190 - VIVER A PRAZO INCERTO

189 - CAPITÓLIO

188 - LEITO DE AROMAS

187 - UM SERÁ ELEITO

186 - O DESCONTÍNUO EXISTENCIAL

185 - LIBERDADE CONDICIONADA

184 - DA IMPRATICÁVEL TRANQUILIDADE

183 - ERAMOS FELIZES E NÃO SABIAMOS

182 - A ENCENAÇÃO EM POLÍTICA

181 - UM ANJO AO CAIR DA TARDE

180 - UM MUNDO INQUIETO

179 - EM DEMOCRACIA, SEMPRE

178 - ... E LÁ VAMOS!

177 - NO RASTO DE WALTER BENJAMIN

176 - DIA DE PORTUGAL E DAS COMUNIDADES

175 - MATURIDADE DEMOCRÁTICA

174 - LIFE IS ALL RIGHT IN AMERICA

173 - AZINHEIRA PORTUGUESA

172 - UM PRESIDENTE CARISMÁTICO

171 - DO ENTENDIMENTO EM POLÍTICA

170 - BRASIL

169 - XI JINPING VISITOU PORTUGAL

168 - PRESIDENTE DE ANGOLA VISITA PORTUGAL

167 - VAGA DEMOCRÁTICA NOS USA

166 - BRASIL, HOJE!

165 - ANTÓNIO COSTA VISITA ANGOLA

164 - ALIANÇA - PARTIDO PLURAL

163 - CIMEIRA DA NATO

162 - PORTUGAL PLURICONTINENTAL

161 - DA UTOPIA KIBUTZIM

160 - O TALENTO DE SOBREVIVER

159 - BRASIL EM CRISE

158 - TRAUMA NACIONAL

157 - PSD - As Paixões da Alma

156 - SAMPAIO DA NÓVOA NA UNESCO

155 - PROBIDADE E LIDERANÇA

154 - O SAMOVAR DE RASPUTINE

153 - MONEY, MONEY, MONEY

152 - TEMPO DE CÓLERA E MEDO

151 - VAIAMOS IRMANA, VAIAMOS FOLGAR

150 - MACRON: FRANCE ET USA FOREVER!

149 - DESPOVOAMENTO E PERIGOSIDADE

148 - AS SUICIDAS

147 - O CONVIDADOR DE PIRILAMPOS

146 - «AMERICA FIRST»

145 - NUMA NOITE DE INVERNO

144 - DA IDEOLOGIA DO TEMPO VIVO

143 - O ADIAMENTO É PREFERÍVEL AO ERRO

142 - USA: SEX, LIES AND VIDEOTAPE

141 - GOODFELLAS

140 - BARACK OBAMA EM HIROSHIMA

139 - PALMIRA RESGATADA

138 - INQUIETUDE

137 - PRESIDENTE DIRIGE-SE À NAÇÃO

136 - SAMPAIO DA NÓVOA: LISURA E SOBRIEDADE

135 - DA ILUSÃO DO PROGRESSO

134 - EXASPERAÇÃO

133 - UMA CAMPANHA DISFÓRICA

132 - A CASA EUROPA

131 - O DESPOTISMO EUROPEU

130 - A CAPITULAÇÃO DA PRIMAVERA SOCIAL

129 - PORTUGAL ESMORECIDO

128 - TERMINOU A VII CIMEIRA DAS AMÉRICAS

127 - O DECLÍNIO DO VENERÁVEL

126 - DA SATURANTE SERVIDÃO

125 - EUA: RESPONSABILIDADE E UTOPIA

124 - ONU: PORTUGAL NO CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS

123 - CESSA O EMBARGO A CUBA

122 - GOLDFINGER & CIA

121 - Dilma Rousseff inicia segundo mandato

120 - OBAMA REFORÇA A IDEOLOGIA

119 - O PESADELO LÚCIDO

118 - DA APOLOGIA DO MEDO

117 - QUO VADIS, EUROPA

116 - ABRIL

115 - PAZ E DIPLOMACIA

114 - A Alquimia da vontade

113 - KIEV ? PRAÇA DA INDEPENDÊNCIA

112 - A RECONSTRUÇÃO DO MUNDO

111 - 2014, odisseia na Europa

110 - Mandela

109 - MÁRIO SOARES RESGATA O PATRIOTISMO

108 - ONDJAKI A secreta magia dos gritos azuis

107 - A COLINA DERRADEIRA

106 - UM PAÍS IMPREVISÍVEL

105 - POWER AFRICA

104 - DA OCIDENTAL PRAIA LUSITANA

103 - QUE AGORA JÁ NÃO QUERO NADA

102 - UM CONSENSO ABRANGENTE

101 - NEM FORMOSO NEM SEGURO

100 - AMERICA THE BEAUTIFUL

99 - UM PAÍS ENCANTADO

98 - CANÇÃO PARA AS CRIANÇAS MORTAS

97 - FILOSOFIA DA MISÉRIA

96 - OBAMA NA PRESIDÊNCIA

95 - NOBEL DA PAZ DISTINGUE UNIÃO EUROPEIA

94 - RESILIENCE

93 - ÓDIO

92 - TEAPLOT

91 - VIAGEM DOS AVENTUREIROS DE LISBOA

90 - FERNANDO PESSOA / PROSA DE ÁLVARO DE CAMPOS

89 - A FARSA DO INSTÁVEL

88 - FUNDAÇÂO JOSÉ SARAMAGO

87 - OBAMA ON THE ROAD

86 - O FUROR DA RAZÃO

85 - Geografia do Olhar

84 - ESTOICISMO COERCIVO

83 - O TRAMPOLIM DA LINGUAGEM

82 - NO PAÍS DAS UVAS

81 - ODE À ALEGRIA FUGITIVA

80 - A VIRTUDE DO AMOR

79 - ANGOLA - Metáfora do mundo que avança

78 - Clarabóia

77 - Indignados

78 - APRESENTAÇÃO DE "ORNATO CANTABILE" E "MAR SALGADO"

75 - 11 DE SETEMBRO, 2011

74 - OSLO

73 - Viver é preciso

72 - O grito da garça

71 - MORTE EM DIRECTO, NÃO!

70 - ALEA JACTA EST

69 - CONFRONTO - Porto 1966 - 1972 - Edições Afrontamento

68 - PARVOS NÃO, ANTES CRÉDULOS

67 - DA PERTINÊNCIA & DO ABSURDO

66 - MORTINHOS POR MORRER

65 - VENHA BISCOITO QUANTO PUDER!

64 - VERDADE E CONSENSO

63 - LEAKINGMANIA

62 - SESSÃO DE LANÇAMENTO NA LIVRARIA BUCHHOLZ

61 - UMA APAGADA E VIL TRISTEZA

60 - IMPLICAÇÕES ÉTICAS E POLÍTICAS

59 - NO DIA DE PORTUGAL

58 - FERREIRA GULLAR- PRÉMIO CAMÕES 2010

57 - BENTO XVI - PALAVRAS DE DIAMANTE

56 - O 1º DE MAIO / LABOR DAY

55 - BULLYING E KICKING

54 - O AMOR EM TEMPO DE CRISE

53 - FÁBULAS E FANTASIAS

52 - THE GRAPES OF WISDOM

51 - Do Acaso e da Necessidade

50 - deuses e demónios

49 - CAIM ? o exegeta de Deus

48 - Os lugares do lume

47 - VERTIGEM OU A INTELIGÊNCIA DO DESEJO

46 - LEITE DERRAMADO

45 - Casa de Serralves - O elogio da ousadia

44 - FASCÍNIOS

43 - DA AVENTURA DO SABER , EM ÓSCAR LOPES

42 - TOGETHERNESS - Todos os caminhos levaram a Washington, DC

41 - Entrevista da Prof. Doutora Ana Maria Gottardi

40 - I ENCONTRO INTERNACIONAL DE LINGUÍSTICA DE ASSIS, Brasil?

39 - Filomena Cabral, UMA VOZ CONTEMPORÂNEA

38 - EUROPA - ALEGRO PRODIGIOSO

37 - FEDERICO GARCÍA LORCA

36 - O PORTO CULTO

35 - IBSEN ? Pelo TEP

34 - SUR LES TOITS DE PARIS

33 - UM DESESPERO MORTAL

32 - OS DA MINHA RUA

31 - ERAM CRAVOS, ERAM ROSAS

30 - MEDITAÇÕES METAPOETICAS

29 - AMÊNDOAS, DOCES, VENENOS

28 - NO DIA MUNDIAL DA POESIA

27 - METÁFORA EM CONTINUO

26 - ÁLVARO CUNHAL ? OBRAS ESCOLHIDAS

25 - COLÓQUIO INTERNACIONAL. - A "EXCLUSÃO"

24 - As Palavras e os Dias

23 - OS GRANDES PORTUGUESES

22 - EXPRESSÕES DO CORPO

21 - O LEGADO DE MNEMOSINA

20 - Aqui se refere CONTOS DA IMAGEM

19 - FLAUSINO TORRES ? Um Intelectual Antifascista

18 - A fidelidade do retrato

17 - Uma Leitura da Tradição

16 - Faz- te à Vida

15 - DE RIOS VELHOS E GUERRILHEIROS

14 - Cicerones de Universos, os Portugueses

13 - Agora que Falamos de Morrer

12 - A Última Campanha

11 - 0 simbolismo da água

10 - A Ronda da Noite

09 - MANDELA ? O Retrato Autorizado

08 - As Pequenas Memórias

07 - Uma verdade inconveniente

06 - Ruralidade e memória

05 - Bibliomania

04 - Poemas do Calendário

03 - Apelos

02 - Jardim Lusíada

01 - UM TEATRO DE PAPEL (Mário de Sá- Carneiro - «A CONFISSÃO DE LÚCIO» - A linha da luxúria, apresentada na PUC/Rio e UFRG)


Entendo que todo o jornalismo tem de ser cultural, pois implicauma cultura cívica, a qual não evita que, na compulsão, quantas vezesda actualidade, se esqueçam as diferenças.

No jornalismo decididamente voltado para a área cultural, todosos acontecimentos são pseudoeventos, cruzando-se formas discursivasem que as micropráticas têm espaço de discussão.

Não sendo um género, o jornalismo cultural é contudo uma práticajornalística, havendo temas que podem ser focados numa perspectivacultural especifica ou informativa, numa área não suficientementerígida, embora de contornos definidos.

Assim o tenho vindo a praticar ao longo dos anos, quer na comunicação social quer, a partir de agora, neste espaço a convite da 'Unicepe'.

Leça da Palmeira, 23 de Setembro de 2006

        2021-07-25



ÁFRICA DO SUL – AGITAÇÃO



Por Filomena Cabral



E nada resistirá ao tempo, a memória sempre a reajustar-se: se tivermos recordações de eleição supostas inabaláveis, eis que, de súbito, lançados em vórtice destruidor, o que memorizámos vai deixando de ser; e teremos de entrar à força no puzzle, caso contrário situar-nos-íamos no vácuo existencial: sem memória, somos nada.

Vem a introdução a propósito dos conflitos na África do Sul. E aqueles que de entre nós a recordam, por terem dela determinado perfil - indiscutível a beleza das suas cidades emblemáticas -, perante imagens de subversão, recusam, quase, revê-las.

Longe o tempo de uma visita do senador Robert Kennedy, nos anos sessenta, opunha-se ao apartheid na África do Sul e à discriminação racial nos Estados Unidos; em consequência, fora proibida a entrada no país de jornalistas que não fossem sul-africanos, para evitar notícias imparciais sobre a estada. Célebre o discurso que proferiu na cidade do Cabo, perante multidão constituída na sua maioria por estudantes: «A humanidade essencial do homem só pode ser protegida e preservada onde o governo tem de responder perante todo o seu povo, e não apenas as pessoas de uma determinada religião ou de uma determinada raça.» E encorajando a atividade a favor dos direitos humanos, onde quer que fosse, Kennedy declarara: «De cada vez que um homem defende um ideal ou age para melhorar a vida de outros homens, ou se ergue contra a injustiça, desenha pequena onda de esperança que, cruzando-se com outras ondas, forma uma corrente que pode derrubar os mais fortes muros da opressão.» As imagens de distúrbios verificados por estes dias, demostram que o sorvedouro do tempo arrasta consigo ideais, sentimentos, palavras.

Pela altura da visita de Kennedy, o domínio colonial e europeu em África estava praticamente no fim; excetuando a Rodésia do Sul que se agarrava à sua independência dominada pelos europeus, a única potência colonial que restava, com domínios vastos no continente africano, era Portugal. A França prometia à Somália um referendo iminente sobre a independência. A Grã-Bretanha concedera a independência ao Botswana e ao Lesoto, prometida para mais tarde a independência da Suazilândia.

Enfim, «as europas fora da Europa» que agora formam a União Europeia, inquietas com o futuro – tantos os motivos - o passado a vaguear-lhes no espírito, sempre - o coletivo é similar, onde quer que seja -; talvez sonhem a abundância antiga, cada qual no seu jardim africano, continente em trauma constante, por isto ou por aquilo, problemas de riqueza entranhada no solo, de uma estrutura social entroncada em sobados, reinos; a «união africana» seria improvável.

O que agora parece comprovar-se: de súbito, multidões enfurecidas, etnias desavindas arrasam, ensandecidas, o bem comum, apesar de tudo, sustentando assim a ideia de ser o preconceito racial «fenómeno totalmente irracional», frase de Abram Fischer, destacado advogado, durante o seu julgamento; acabara condenado a prisão perpétua por apoiar o banido Congresso Nacional Africano e ser membro do Partido Comunista. Nas eleições realizadas na semana depois da sentença, a política racial de apartheid fora ainda mais reforçada, ocupando-se o novo governo no aniquilamento de qualquer oposição pública. Fora por essa altura que Robert Kennedy entrara em cena.

Eis que, sessenta anos decorridos, Durban surpreende o mundo em arruaça inesperada, alastrando, quiçá, ao restante país. Para já, em Joanesburgo, verificaram-se desacatos em diversos locais, em Victoria Street, rua por onde caminhei - supunham-me holandesa; ali se situava um bairro habitado por europeus, Regents Park, onde ora vivem, segundo parece, muitos portugueses.

E mais uma vez me pergunto: em que lugar não estivemos nós, portugueses. A inquietação das palavras, do pensamento, a mente incendiada… em todos os tempos. Na linha do horizonte, nada divisamos, não se aproxima qualquer nau, acabaram-se os tempos da pimenta e da canela e os seus lugares, por onde nós, portugueses, caminhámos. Todavia, não necessitamos de repudiar o passado, sempre fomos errantes como as aves. Os dias vão passando e, por estranho que pareça, somos os mesmos que escutávamos aventuras de velhos cavaleiros sobre lugares longínquos. De longe a longe, haveria consciência do esbanjamento, o futuro encruzilhada a temer; o medo do porvir, por este motivo, aquele, será sempre, ainda agora no século XXI; assalta-nos durante o sono para que recordemos acordados. De nada valerá questionar o destino, será visível no futuro, quando tornado presente. É no presente que tudo acontece; somos trágicos, por isso nos entregamos a um estado do mundo e das coisas, das economias, da saúde (a peste negra, há séculos), como se nos lançássemos a uma cisterna medieval. A nossa experiência de portugueses, no mundo, é inigualável. E teremos de tecer a história do futuro, sem privilégios, de responsabilidade de todos os países do planeta. Teremos de viver, o tempo escoando-se, perdidos talvez num universo de ambiguidades, tentando captar a harmonia das vozes. E perguntar-nos-emos sobre o nosso lugar na história do mundo, para tal necessitamos de atores sociais. Os candidatos regurgitam, ansiosos; a responsabilidade estendeu-se a um todo social. E poderemos invocar a aspiração de justificar um procedimento, corroborando que está a executar-se um ato por razão múltipla de Estado, empenhados no jogo da necessidade e da mentira, da distorção de factos, valores, conceitos.

A expectativa recrudesce, em período eleitoral; apelemos à franqueza. Agir em consonância com o momento exige persuasão, justificando um procedimento, obrigando ao jogo da necessidade, animado este do movimento espiralado das utopias: jamais regressam.

2021-07-23







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