Por Filomena Cabral
«Renovamos o nosso compromisso de tudo fazer para que Portugal e Angola continuem a pugnar por uma relação de cooperação exemplar»
João Lourenço (após condecorar Marcelo Rebelo de Sousa com a Ordem Agostinho Neto.)
Após dias repletos de emoções desencadeadas pela visita presidencial a Angola, proponho que divaguemos, ficará na memória do mundo: as imagens chegam a todo o lado, aspecto que nos orgulha, enquanto portugueses.
Vejamos:
A «sombra» do passado, herança de formas de vida, contém impulsos que, num contexto social, podem parecer surpreendentes, todavia é nestes que se desenvolve a parte mais emocional. O ego define a identidade do indivíduo e a sua temporalidade, sendo suportado pelas percepções, memória e emoções armazenadas na consciência. Será na simbiose destes dois mundos que se formula e origina a teorização da «geografia psíquica.» Jung - o formulado pertence-lhe -, iluminando o psicologismo, permitiu que a luz entrasse e atribuísse valores concretos a incógnitas que dominaram, durante séculos, o estudo psicológico. Aliado a Freud, criou linhas de interpretação do incompreensível. A psicologia opera milagres...
Como interpretar - de modo racional, a explosão de emoções, senão pela catarse - o entusiasmo das populações pela presença de Marcelo Rebelo de Sousa em Angola? Não é uma estrela do desporto... antes alguém que actua de modo fulgurante, apoiado na inteligência e no conhecimento: «não se ama a humanidade no abstracto...»; assim o disse durante o Fórum Económico.
Certo foi que no Lubango, Lobito ou Benguela, noutros lugares, concentrações de gente disposta nas estradas esperava ver o Presidente de Portugal subir ao estribo do automóvel, em equilíbrio precário ... De facto, «Portugal e Angola conhecem-se na prática e amam-se no concreto. Há sempre espaço para o amor...» - formularia Sua Excelência.
A chegada ao Lubango fez a comitiva esperar mais de 2 horas, Marcelo distribuindo «abraços do tamanho da esperança», as populações, em catarse inconsciente, libertar-se-iam de emoções recalcadas. Ainda segundo Jung, «a emoção e as imagens aumentam de intensidade e em extensão temporal, consoante a raiz e a dimensão do memorável», depois de ter aquele estudado a existência do «inconsciente colectivo», englobando impressões existentes (normalmente antigas que se foram repetindo por séculos).
Mas importa mencionar que Marcelo Rebelo de Sousa foi uma «estrela», ao longo dos dois dias de visita ao Estado de Angola, que a sua actuação, ao longo do mandato, nos palcos diversos da Política e, neste caso, nos da memória da História de Portugal e Angola, nos enchem de orgulho, de subtil melancolia... Angola foi sempre lugar de sonhos, a que nós portugueses demos forma, por séculos, ali os deixámos, prontos a vicejar... A memória genética cumprirá, no que lhe compete, encetados caminhos de ventura por homens e mulheres de boa vontade.
Sua Excelência o Presidente de Angola lembrou que o trabalho feito em cerca de sete meses é muito positivo, «Angola honrará todas as dívidas». De facto, Luanda já pagou 178 milhões de euros às empresas portuguesas, um problema em suspenso. Segundo o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que acompanhou a visita presidencial, «terá sido ultrapassada a barreia dos três quintos e aproximamo-nos dos dois terços», salientando que os números «evoluíram positivamente», após a visita do Presidente João Lourenço a Portugal. Os 35 acordos bilaterais de cooperação que foram assinados pelos dois Estados - levam a que dividamos os louros da visita a Angola com o nosso Ministro.
«A vida é um campo de batalha. Sempre foi e sempre será; e se assim não fosse, a existência chegaria ao fim» - quem o afirma é ainda Jung.
«A saudade deixou raízes difíceis de arrancar...»; muitos o experimentámos.
Não se ama a humanidade em abstracto, todavia.
Muito obrigado, Excelência, felicitamo-lo pelo terceiro ano de uma Presidência fulgurante: engrandece-nos.
09.03.2019