2025-03-01
ATLAS OCULTO
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Uma cidade os liga, Dublin, mas não seria
suficiente. Um deles tem a obra plástica que deixou, o outro ficou cativo das
imagens do pintor. Um é Harry Kernoff, o outro é Vítor Vicente. Um descreveu
cenas e personagens, pintando-os com tinta, o outro transformou em textos as
formas, as cores e as emoções e pensamentos que ali encontrou. É um livro
bilingue, e cada texto está acompanhado de uma pintura. Trata-se, então, de
um diálogo a três. Ou mais. Mas para começar, temos o pintor, o poeta e o
tradutor. O poeta traz ao diálogo a elegância de quem pensa a vida com
requinte. E ficamos com vontade de ir a Dublin ver os quadros, encontrar o escritor e ouvir o som da língua do tradutor. É este o mapa que levamos para não nos perdermos na Irlanda. O que talvez nos permita encontrar o senhor com óculos e o senhor sem óculos das pinturas, talvez num pub, nadando num copo de cerveja. Depois, com o mesmo mapa, daremos um salto a Paris, para confirmar se é verdade o que o autor do texto assim descreve e nós também sabemos: “a França tresanda a fim de festa, ao terror que se entranhou na Europa e que a empesta. Enquanto Paris não voltar a ser espampanante, não podemos ter Esperança, nem estaremos perto da paz.” Aguardando que tal aconteça, damos um salto à Rússia, de onde é proveniente a família do pintor, com escala em Londres, onde nasceu, e de onde partiu para ir desenhar Dublin. Umas boas décadas mais tarde dar-se-ia o encontro, não do artista, mas desses desenhos com o escritor de língua portuguesa que depois de peregrinar pela Europa ali chegaria, talvez por chamado, e contaria em livro os encontros de que hoje aqui falo. “O Hóspede de Harry Kernoff” está identificado como “Literatura de Viagens”, o escritor é Vítor Vicente, a tradução pertence a Garry Craig Powell, e está editado pela Book Link, com ilustrações de Harry Kernoff, numa edição de 2023. Um dia experimentarei visitar o Porto com este misterioso mapa ao qual se vão acrescentando cidades interiores e anteriores a quem as visita.
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