2025-02-14, sexta-feira, 18h00:

Apresentação, por Manuel Matos, do livro "Resgatar Sócrates da Jaula da Metafísica", de Fernando Cabral Pinto

 

 

 

 O esforço transhistórico da humanidade pela sua eman­cipação é contrariado pela expropriação do pensamento livre e pela sua instrumentalização ao serviço de poderes fácticos. Sócrates resistiu e foi executado. Depois disso, foi criada a len­da socrática de um filósofo indiferente aos problemas reais do seu tempo e da sua cidade, alienado da própria vida (“A única tarefa de quem trata da filosofia propriamente dita é… morrer e estar morto”), obcecado pelo céu das ideias onde residiriam os valores como realidade em si e que a alma teria conhecido “em pessoa” antes de se unir ao corpo. Foi Platão quem, desta forma, o encarcerou na jaula da metafísica para todo o sempre e para todo o sempre o tornou utilizável para as obstruções his­tóricas do pensamento crítico. O contrário daquilo que ele foi e pretendeu ser.

 

Feito o balanço de algumas das barbaridades que têm autodestruído e continuam a autodestruir a humanidade, ilimita­damente e indefinidamente, é oportuno lembrar Sócrates para dizer, sob a sua inspiração, que é a renúncia dos povos e dos particulares ao direito de questionar a autoridade dos decisores que permite que estes arrastem as multidões indefesas para a sua morte e para a morte de outras multidões igualmente indefe­sas, falsamente identificadas como inimigas. Não é preciso mais para reconhecer que é urgente resgatar Sócrates e restituí-lo à sua missão.

 



 


 

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