2016-06-08, segunda-feira, 19h30: 162º Jantar de Amizade UNICEPE:
"Sobre o discurso filosófico da humanidade",
com o nosso associado Fernando Cabral Pinto
19h30, jantar, com inscrições antecipadas para Unicepe@net.novis.pt. Ementa: sopa de legumes, saladas variadas, Filetes de pescada com arroz de tomate + Rojões à minhota, vinho verde branco, vinho maduro branco e tinto, refrigerantes, águas, cerveja, sobremesas variadas, vinho do Porto POÇAS. Preço: 15,00 €
21h30: Tertúlia, com entrada livre.
Sobre o discurso filosófico da humanidade
A brutalidade das formas de vida institucionalizadas na história das sociedades
e do mundo faz pensar na existência de um erro genético que condena a humanidade à
sua contínua autodestruição.
Há, de facto, um a priori "quase-transcendental" que determina a forma
paradoxal da evolução humana, impondo que, em todas as suas etapas, os avanços
civilizacionais tenham inexoravelmente por condição e consequência a imolação de um
número indefinido e crescente de vidas em todos os lugares da Terra. Ora, na impudente
transparência do nosso tempo, não é difícil reconhecer esse a priori no princípio da
sobrevivência. Ele tem sido, desde as primeiras lutas entre hominídeos (modelo hegeliano
da luta pelo reconhecimento), o fundamento da dominação política dos vencedores sobre
os vencidos e o argumento universal para todas as guerras de conquista e destruição
desencadeadas ao longo da história da humanidade.
Totalmente outro seria, obviamente, o futuro colocado sob a égide do princípio
da realização. A assimilação teórica deste princípio tem o efeito de uma mudança
gestaltista de perspectiva. Não muda a realidade, mas oferece um ponto de vista
hermenêutico, um "fio condutor a priori" para a sua transformação. Com ele podemos
reconhecer e reconstruir o sentido emancipador do desenvolvimento humano.
O princípio da realização subentende a autoconsciência iluminista da
humanidade como sujeito e como ideal. Como sujeito, na ordem sincrónica, postula-se a
sua unidade substancial e, simultaneamente, a sua autonomia; como ideal, na ordem
diacrónica, admite-se o seu inacabamento, mas também a sua perfectibilidade. O
postulado da unidade faz deduzir a paz, a solidariedade e a cooperação como sendo os
modos naturalmente humanos da vida social. A assunção da autonomia (a saída da
menoridade, a chegada à idade da razão) torna a humanidade responsável pelo sentido
libertador do seu futuro e impõe a vinculação teleológica da sua auto-organização política
Ao compreender o sentido ético da história como auto-realização da
humanidade, mediada pela auto-realização dos indivíduos, a tradição iluminista também
indicou os vectores do desenvolvimento humano. Nós podemos reportá-los aos usos da
razão conforme foram assinalados por Kant, tendo por campo de aplicação os dois reinos
assinalados por Marx: o reino da necessidade, ou seja, o lugar da produção e do trabalho
remunerado, e o reino da liberdade, ou seja, o lugar da realização onde cada um se
entrega por auto-recriação ao desenvolvimento de atividades sem finalidade económica.
Enquanto o primeiro deve minguar, o segundo deve crescer indefinidamente.
Infelizmente, o processo histórico segue no sentido inverso.
As filosofias da emancipação
O discurso filosófico da emancipação humana
1. Sócrates, um "filósofo bastardo"
2. A heresia política de Espinosa (a Ética equivale à CRP kantiana)
3. A formação humana no projecto da humanidade
4. A idade da realização: na história da vida, na vida da história
5. Aposta filosófica na emancipação humana
Fernando Cabral Pinto é doutor em Ciências da Educação pela Universidade do Porto e mestre em
filosofia contemporânea pela Universidade de Coimbra. Tem desenvolvido atividades de docência e
investigação nas áreas da filosofia da história, da política e da educação. Publicou, entre outros, os
seguintes livros: Sócrates, um "filósofo bastardo", Livros Horizonte, 1985 (2ª edição, Edições
Piaget, 2002). A Heresia Política de Espinosa, Livros Horizonte, 1990; A Formação humana no
projecto da modernidade, Edições Piaget, 1996; A idade da realização, na história da vida, na vida
da história, Edições Piaget, 2011; Aposta filosófica na emancipação humana, Edições
Afrontamento, 2016.