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Continuar abril


por Regina Gouveia



Hoje, 25 de abril, tomei de empréstimo um poema publicado em http://ortografiadoolhar.blogspot.pt/

Os barcos têm sede: falta mar.
Os lenços não respiram: falta vento.
Que outro (a) mar das marés do teu olhar
me tragam ao país a que pertenço.

Os vidros têm fome: faltam cravos
assomados à janela do futuro.
Da teia dos meus dedos farei barcos.

Serão velas as palavras que procuro.

Hugo Santos
In: Armas de (a) mar. Lisboa: Ulmeiro, 1988

Quando recordo o 25 de abril de 74, vem-me de imediato à mente a marcha militar do 25 de Abril https://www.youtube.com/watch?v=SDe2weyiAWw

Recordo-me, como se fosse hoje. Fui normalmente para o Liceu Alexandre Herculano, onde lecionava. A meio da manhã a escola fechou, mas não se sabiam ainda pormenores do que tinha acontecido. Golpe de "progressistas "ou dos "ultras"?

Quando se confirmou a primeira hipótese foi uma alegria espontânea e contagiante. Peguei nos meus filhos, um com meses, o outro com dois anos, e saí para a rua. A marcha ecoava por todo o lado...

O ambiente era de festa. A este propósito recordo "Tanto mar" de Chico Buarque (versão de 1975) lhttps://www.youtube.com/watch?v=LImcXq3zMH0

Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim 

Mas teria sido 25 de abril para todos?

Em Vinte e zinco, Mia Couto "diz", pela voz da adivinhadora Jessumina

"Vinte e cinco é para vocês que vivem nos bairros de cimento. Para nós, negros pobres que vivemos na madeira e zinco, o nosso dia ainda está por vir".

É certo que os cravos foram murchando...

Recordo de novo "Tanto mar" de Chico Buarque, agora na versão de 1978. https://www.youtube.com/watch?v=0BYugJoXTeY

Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar

Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim 

Mas porque a esperança não morre, termino com Augusto dos Anjos

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença,
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança (...)

In Poema A Esperança


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