por
Miguel Boieiro
A revista francesa "Alternatif bien-être" cujo subtítulo é,
significativamente, "Le Journal d'nformation des Solutions Alternatives de
Santé", na sua edição de janeiro de 2016, traz um desenvolvido artigo
sobre o açafrão. A revista é revolucionária porque põe em causa
tratamentos e remédios utilizados correntemente pela medicina alopática,
através de argumentos razoáveis e é sempre com muito interesse que a
recebo.
No tocante ao açafrão, observe-se apenas as frases que encimam as várias
partes do estudo: - Depressão: a arma secreta dos médicos persas; a
especiaria mais cara do mundo; as virtudes antidepressivas; contrariar os
transtornos sexuais; depressão dos adolescentes: os tratamentos podem
matar; eficácia contra o Alzheimer. Não vou, como é óbvio, traduzir tudo o
que diz a revista, mas deixo estes títulos para aguçar a curiosidade dos
leitores sobre uma planta ainda insuficientemente utilizada pelos portugueses.
Atenção! Falo da herbácea denominada cientificamente Crocus sativus L
que é uma Iridaceae e não de outros sucedâneos, usados habitualmente
por serem mais baratos, a que o vulgo e o comércio também chamam de
açafrão. É o caso da Curcuma longa que é uma Zingiberacea e da
Carthamus tinctorius que é uma Asteraceae.
O açafrão, conhecido e utilizado há milhares de anos, é justamente
apelidado de ouro vermelho devido ao alto preço que atinge no mercado
mundial. Um quilo desta apreciada especiaria custa de mil a três mil euros,
conforme a sua qualidade. O que se aproveita da planta são apenas os três
estigmas de cada flor que é colhida manualmente. São necessárias cerca
de 150 mil flores para obter um quilo desses filamentos que depois são
devidamente secos e pulverizados. É pois a mão-de-obra que encarece
extraordinariamente o produto, já que o processo de cultivo não parece
difícil.
A planta é bulbosa, perene, de 10 a 15 cm de altura, dá-se bem em
terrenos medianamente arenosos e precisa de uma boa insolação. As
flores aparecem em outubro, tendo seis pétalas lilases, três estames
amarelos e três estigmas (filamentos) de vermelho intenso que são o que
se aproveita, tudo o mais é tóxico.
Julga-se que o açafrão é originário da bacia mediterrânica, do próximo
oriente e duma cintura geográfica que vai daí até à Índia. Segundo a citada
"Alternatif bien-être", o Irão é atualmente o principal produtor, detendo
cerca de 90% de toda a produção mundial. São também os iranianos quem
mais investiga a planta sob o ponto de vista medicinal, tendo chegado a
conclusões incríveis sobre as suas múltiplas aplicações vantajosas
comparadas com medicamentos de danosos efeitos secundários.
O açafrão consegue inibir moléculas e enzimas responsáveis por
inflamações crónicas, melhora a função cerebral, reduz o risco de doenças
do coração, combate o cancro, previne a doença de Alzheimer, trata as
artrites, a depressão e o envelhecimento precoce, facilita a digestão, alivia
o fígado e atenua a pressão arterial. Querem mais?
Contém mais de 150 compostos voláteis e aromáticos, carotenoides,
glucósidos amargos, corantes (crócina), ferro, magnésio, potássio, fósforo,
zinco, cálcio, selénio, pró-vitamina A, vitaminas B1, B2, B3 e C. Das suas
propriedades fitoterapêuticas assinalam-se as seguintes: analgésica,
tónica, digestiva, aperitiva, sedativa, antiviral, anti-inflamatória,
antioxidante, emenagoga, carminativa, antiespasmódica. Todavia, em
doses elevadas pode ser abortivo e produzir hemorragias internas e
vertigens. O "chá", para beber três chávenas diariamente, não deve levar
mais do que 2 gramas do pó para um litro de água.
Como condimento, com o seu gosto penetrante, o açafrão está
omnipresente na culinária hindu, árabe e persa. No ocidente é
sobejamente conhecida a sua utilização na "paella" valenciana, conferindo
ao arroz uma coloração característica. É também um dos componentes do
afamado caril. Na maior parte das vezes, contudo, o consumidor é
enganado porque, em vez do Crocus sativus, a cor amarela vem do pó
extraído da raiz da curcuma, também chamada açafrão-das-índias. Ora,
sem desprimor pelas qualidades da curcuma que, de resto, são muitas, ela
nada tem a ver com o sabor único do verdadeiro açafrão. Atrevo-me a
afirmar que a maior parte dos menus apresentados no nosso país como
contendo açafrão, não possuem o verdadeiro açafrão.
A fama da planta provém-lhe também de ser um corante notável. A
propósito, diga-se que a palavra açafrão vem do árabe e significa amarelo.
As típicas túnicas dos monges budistas ilustram bem a beleza da coloração
amarelo-laranja proporcionada pelo açafrão.
Termino, voltando de novo aos atributos medicinais e às descobertas dos
cientistas iranianos. Eles dizem que o açafrão é o suplemento nutricional
mais completo que existe, sendo a melhor substância natural para
combater as depressões e substituir medicamentos com efeitos
secundários arrepiantes, como o "Prozac" e quejandos.
Deixo um desafio aos nossos agricultores. Por que não investir na
produção do Crocus sativus em Portugal? Temos solos e clima adequados,
o valor do produto é elevado, há mercado a nível mundial, e pode
contribuir para baixar a taxa de desemprego. Por que não?
Miguel Boieiro
Porto, 20/01/2016
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